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:: Notícia
A ditadura do erro zero e o preço da intolerância
Postada em 09/09/2015 às 17:03
“Não se busca o diálogo, mas a ofensa. (...) Entrei aqui para fazer amigos e não para brigar, para ter inimizades. Não faz bem, não quero isso. Vou cuidar da minha vida.”

O desabafo caberia perfeitamente na boca de qualquer pessoa que vive o futebol ou nele milita, por dever de ofício ou paixão. Poderia ser de um atleta bem remunerado ou de um dirigente amador. De um árbitro achincalhado por ter cometido um erro decisivo ou de um treinador chamado de burro por dezenas de milhares de pessoas que não concordam com uma convocação ou substituição.

Mas a frase é de alguém acostumado às penas. Um profissional renomado, consagrado e calejado, com décadas de serviços prestados ao esporte. O jornalista Antero Greco, um dos pontos de lucidez da mídia especializada, foi alvo da irracionalidade que parece ter invadido de vez o nosso futebol.

“Isso machuca, decepciona, entristece. Nos últimos dias, me empenhei em pedir bom senso, ponderação, PAZ, até porque o país anda tenso. Mas, em vez de compreensão, recebi mais xingamentos (...) De repente, virei inimigo, desonesto, mau caráter. Recebi até ameaças. Não é justo isso comigo, com minha família”, escreveu o colunista da “ESPN Brasil” e de “O Estado de S.Paulo” ao abandonar o Twitter.

Greco não foi o primeiro a ver seu nome maculado por indivíduos que julgam sem conhecimento, que destroem nomes sem ao menos dar direito ao contraditório. Antes dele, outros expoentes do jornalismo esportivo, como André Rizek, Ledio Carmona e Marcelo Barreto, todos do Grupo Globo, e Flávio Gomes, do “Fox Sports”, tiveram que enfrentar a barbárie e a fúria de fanáticos e extremistas.

A intolerância faz vítimas diariamente no futebol. O equívoco deixou de ser admitido como algo humano. Juízes, jogadores, treinadores, diretores - e agora até jornalistas - todos estão no mesmo barco do julgamento coletivo e instantâneo, à deriva da ditadura do erro zero.

A emoção que é a alma do futebol não pode ser desculpa para declarações irresponsáveis de dirigentes, técnicos, jornalistas e torcedores que jogam em terceiros suas próprias frustrações. Pessoas que usam microfones ou as redes sociais para, sem qualquer indício ou prova, “denunciar” uma teoria conspiratória de que um campeonato com a história e o equilíbrio do Brasileirão já tem um vencedor antes mesmo de seu terço final.

É um erro chamar de torcedores os selvagens que se escondem atrás da multidão, do anonimato ou da internet para expurgar seus descontentamentos à custa do desassossego de pessoas que apenas estão exercendo seu direito de trabalhar, opinar ou simplesmente se divertir.

A ira desmedida alveja presidentes de clubes impedidos de sair de casa após uma derrota em um clássico. Fere à queima-roupa árbitros apontados como ladrões antes mesmo do primeiro apito.

A CBF pretende iniciar um debate nacional que permita às pessoas envolvidas no futebol a preservação de sua imagem até que se prove o contrário. É a hora da cruzada pelo respeito não só aos juízes dentro de campo, mas a todos aqueles que torcem e se esmeram por um futebol brasileiro melhor.

O “fair play” que pregamos em campo pode ser seguido por todos os segmentos do esporte, inclusive os torcedores, protagonistas deste espetáculo. No futebol, sempre haverá vencedores e vencidos, faz parte do jogo. Só não podemos mais admitir a agressão, a ameaça a famílias ou a destruição de reputações com a justificativa rasa e primária de que futebol é paixão.

Marco Polo Del Nero

Presidente da CBF


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